"No verão de 1998, caminhando por uma praia do Sul de Moçambique, encontrei,esvoante sobre a areia, uma pena de flamingo.Os pescadores locais me haviam dito que , outrora, por ali ninhavam bandos de flamingos.Fazia tempo, porém, que eles não vinham.
No entanto, os pescadores esperavam ainda a visita daqueles magros anjos do vento. Na tradição daquele lugar, os flamingos são eternos anunciadores de esperança.
Uma inexplicável angústia me assaltou _ e se os pássaros não voltassem mais? E se todos os flamingos de todas as praias tivessem sido tragados por longínquas trevas?
Uma antecipada saudade me concaveou o peito.Não era a simples carência dos seres. Era o definitivo da ausência dos mensageiros dos céus, esses discretos carteiros divinos."
Mia Couto- Trecho das palavras proferidas na entrega do Premio Mário António, em 12 de junho de 2001
"Só as vozes africanas autênticas sabem que o flamingo faz o sol voltar a brilhar depois de um período de trevas e opressão."
Fonte:O último voo do flamingo-Mia Couto- Ed.Companhia das letras
*Indicação da amiga Calu,do blogfractaisdecalu.blogspot.com que estou "degustando" bem devagar. É o segundo livro que leio do Mia Couto, e só posso dizer que sou apaixonada pela forma poética que ele escreve.